08/09/2014

Epidemiologia do uso de drogas


Para estudarmos a epidemiologia do uso de drogas no Brasil, precisamos primeiramente entender o que é epidemiologia. Diferentemente da sua formulação original, histórica, a epidemiologia não estuda apenas as grandes epidemias.
Epidemiologia, em seu sentido amplo, é a ciência que estuda a frequência e os fatores relacionados à ocorrência de agravos, doenças e/ou comportamentos relacionados à saúde da população.

Assim, falar em epidemiologia do uso de drogas não significa necessariamente que exista uma epidemia desse comportamento no Brasil, significa que estamos interessados em entender como esse fenômeno acontece, qual é a distribuição dele no espaço e como as suas possíveis alterações ocorrem ao longo do tempo.

Nesse tipo de estudo, as pessoas não são entrevistadas diretamente. Os dados são coletados a partir de informaçõesjá existentes, como o número de: internações hospitalares por dependência de drogas, atendimentos em serviços de saúde de emergência por overdose, apreensões de drogas feitas pela Polícia Federal, prisões por tráfico, etc.

Os levantamentos e indicadores epidemiológicos são importantes, pois traçam um diagnóstico da situação do consumo de droga no país e permitem que as políticas públicas sejam desenvolvidas e/ou reformuladas, baseadas em evidências científicas atualizadas. Assim, o
monitoramento dessas informações faz-se necessário, visto que essa é
uma questão dinâmica; ou seja, além de novas drogas surgirem com o passar do tempo, o consumo de drogas também é modulado por questões socioculturais, pelas políticas referentes ao seu controle e pela atuação dos órgãos de segurança pública.

Os dados epidemiológicos disponíveis no Brasil ainda são escassos e insuficientes para responder de forma satisfatória a grande parte das perguntas relativas a um tema complexo e polêmico como o consumo de drogas; todavia, novos estudos têm sido desenvolvidos, à medida que os governantes e os formuladores de políticas públicas passam a entender a importância de se ter em mãos tais informações.

Os levantamentos epidemiológicos sobre o consumo de drogas entre
estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio constituem o painel de
dados mais amplo e sistemático sobre o tema de que dispomos no Brasil, com estudos realizados em 1987, 1989, 1993, 1997, 2004 e 2010. O levantamento mais recente apontou que o consumo de qualquer droga (exceto álcool e tabaco), no último ano, foi mais elevado entre alunos da rede particular do que os da rede pública (13,6%) versus (9,9%).

As drogas mais frequentemente usadas pelos estudantes, no último ano, foram as bebidas alcoólicas e o tabaco, com proporções de 42,4% e 9,6%, respectivamente. Dentre as drogas ilícitas, a proporção mais elevada de consumo foi referente à maconha (3,7%).

Entre as meninas, foram registradas, no último ano, proporções mais elevadas de uso de álcool, anfetamínicos (sob a forma de remédios para emagrecer) e ansiolíticos (calmantes), se comparadas às utilizadas
pelos meninos.

O primeiro (e único, até o momento) levantamento nacional sobre drogas referente a universitários brasileiros de instituições públicas e privadas foi realizado em 2009, em todas as 27 capitais do país.
Esse estudo revelou que o álcool foi a substância mais frequentemente consumida pelos universitários nos 12 meses que antecederam a entre vista (72%). Um em cada três universitários referiu pelo menos uma ocasião de consumo do álcool em binge, no último ano. Destaca-se, ainda, que, entre os universitários menores de 18 anos, quase 80% disse já ter consumido algum tipo de bebida alcoólica na vida.
No último ano, o tabaco foi consumido por 28% dos universitários, sendo a proporção de uso mais elevada entre os alunos de instituições privadas do que os das públicas (30% versus 20%).
O consumo de drogas ilícitas foi relatado por 36% dos universitários, sendo a maconha a droga ilícita mais frequentemente consumida pelos entrevistados (14% referiram o uso), destacando-se também o uso de drogas sintéticas, como o ecstasy, por parte de 3,1% dos alunos. O consumo de drogas ilícitas foi mais frequente nas regiões Sul e Sudeste, e menos frequente nas regiões Norte e Nordeste.

Aproximadamente 40% das crianças e adolescentes entrevistados não frequentavam a escola. Assim, o trabalho de prevenção realizado exclusivamente nas escolas não alcança tais sujeitos. Tal limitação fala a favor de duas questões complementares:
a) a implementação, nas escolas, de políticas de inclusão de todas as crianças e adolescentes em idade escolar, o que constitui uma meta factível, plenamente realizada nos países europeus e da América do Norte;
b) a formulação e implementação de políticas de prevenção fora do contexto escolar, que deverão ser desenvolvidas em comunidades, associações recreativas e esportivas, programas de saúde da família, etc.

Em anos recentes, a mídia vem divulgando informações a respeito da disseminação do crack em nossa sociedade, o que se traduz, para muitos, na ideia de ser essa a droga mais consumida no país. Fato esse que não foi confirmado por uma pesquisa recente, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), que investigou a prevalência do consumo de crack e/ou similares nas capitais do país, em 2012.

Esse estudo revelou que 0,8% da população desses municípios consumiu essas drogas de forma regular nos últimos seis meses. Estimou também que o número de usuários regulares de drogas ilícitas (com exceção da maconha) correspondia a 2,3% da população das capitais. Assim, o crack e/ou similares foi consumido por um terço dos usuários de drogas ilícitas (com exceção da maconha), o que se contrapõe às formulações que circulam pelos meios de comunicação.

O Relatório Brasileiro sobre Drogas, publicado em 2009, traz diversos indicadores epidemiológicos que podem servir para dimensionar o cenário nacional sobre o consumo de drogas, como análises das internações decorrentes do uso de drogas no SUS, mortalidade e afastamentos/aposentadorias decorrentes do consumo de drogas, crimes por posse e tráfico de drogas, e apreensões de drogas pela Polícia Federal, entre outros.

Segundo o Relatório, observa-se uma tendência de aumento na apreensão de cocaína no Brasil no período de 2001 a 2007. O ano de 2007 também foi aquele em que foram registradas mais apreensões
de drogas, como o crack, pasta base, maconha, haxixe e ecstasy. Esse aumento, no entanto, não pode ser interpretado exclusivamente como um reflexo do maior consumo e circulação de drogas no país, mas também como decorrente de um incremento na quantidade e na eficácia das operações policiais de apreensão de drogas.

FONTE:
Curso Prevenção dos Problemas Relacionados ao Uso de Drogas: Capacitação para Conselheiros e Lideranças Comunitárias - 6ª edição, promovido pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça (SENAD-MJ) e executado pelo Núcleo Multiprojetos de Tecnologia Educacional da Universidade Federal de Santa Catarina (NUTE-UFSC).

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